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André Rigatti – o olhar que roça a superfície
Talvez o que possa autorizar uma leitura pela tradição da pintura dos trabalhos apresentados por André Rigatti no Museu Victor Meirelles, se dê a partir da disposição deles no espaço expositivo. Colocados sobre a parede, os padrões de tecido reivindicam imediatamente um entendimento do plano pictórico a partir da autonomia do meio estabelecida desde o alto modernismo norte-americano. Esses trabalhos, no entanto, não se esgotam nem pelo deslocamento de seu material constituinte ou pelo deslizamento de sua função. Há uma interferência a mais, uma complementação que infere outro campo de considerações, ou seja, quando o artista sobrepõe ao tecido uma aplicação de linha e cor, seu trabalho parece adentrar em um espaço de representação, ou no mínimo, de relação entre figura e fundo. O que, por si, insinua um problema específico a ser considerado: há uma oscilação entre uma apresentação de materiais com suas cargas específicas de cor e densidade e uma implicação de algo que aparece configurado sobre um primeiro plano considerado, que poderia estar indicando certo nível de representação.
Mas esse trabalho traz consigo também, outro tipo de experiência, esta mais diretamente colocada à condição perceptiva, no nível de uma topologia do olhar. Quando o olho se detém na superfície do trabalho, a experiência pode ser a de esbarrar em felpas, urdiduras e delicados relevos que despistam a direção da imagem e podem mudar seu entendimento. As obras realizadas por André Rigatti se recusam a uma relação distanciada, exigindo a presença do espectador. Não há contorno possível às felpas, linhas e urdiduras de suas pinturas. É sobre elas que o olho deve roçar, esfolar ou se deixar acariciar. A estratégia desses trabalhos parece buscar , seja pelo tamanho ou discrição das formas e das cores, aproximar nosso olhar para um campo de intimidade. Mas pode existir aí um cálculo: e onde se espera a maciez do tecido, pode estar a superfície crua da pintura.
Há,no entanto, algo de irredutível nesses trabalhos. Sob a delicada miragem dessas imagens, algo, como um diamante bruto, resiste às aproximações e às reduções definidoras. Algo de selvagem habita nessas pequenas estruturas de tecido, que faz com que até a intenção de considerá-las como pinturas pareça ineficiente. E nessa resistência talvez resida a potência de uma possibilidade constante à fruição e à leitura que garanta a essas obras um campo de discussão em aberto.
Fernando Lindote - 2010
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André Rigatti - the look that touches the surface
Perhaps what can authorize a reading by the tradition of painting the works presented by André Rigatti in the Victor Meirelles Museum, is from their disposal in the exhibition space. Placed on the wall, the fabric patterns immediately claim an understanding of the pictorial plane from the autonomy of the environment established since high American modernism. These works, however, are not exhausted either by the displacement of its constituent material or the slippage of its function. There is an additional interference, a complement that infers another field of considerations, that is, when the artist superimposes on the fabric an application of line and color, his work seems to enter a space of representation, or at least, of relationship between figure and bottom. Which, in itself, hints at a specific problem to consider: There is an oscillation between a presentation of materials with their specific color and density loads and an implication of something that appears set on a considered foreground, which could be indicating a certain level. of representation.
But this work also brings with it another kind of experience, one more directly placed on the perceptual condition, at the level of a look topology. When the eye lingers on the surface of the work, the experience may be to bump into fuzz, warps, and delicate reliefs that blur the direction of the image and may change your understanding. The works made by André Rigatti refuse a distanced relationship, requiring the presence of the spectator. There is no possible contour to the pleats, lines and warps of your paintings. It is upon them that the eye should rub, skin or allow itself to be caressed. The strategy of these works seems to seek, either by size or discretion of shapes and colors, to bring our gaze closer to a field of intimacy. But there may be a calculation: and where the softness of the fabric is expected, the raw surface of the painting may be.
There is, however, something irreducible about these works. Under the delicate mirage of these images, something like a rough diamond resists the defining approaches and reductions. Something wild inhabits these small fabric structures, which makes even the intention of considering them as paintings seem inefficient. And in this resistance perhaps lies the power of a constant possibility to enjoyment and reading that guarantees these works an open field of discussion.
Fernando Lindote - 2010